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  • Foto do escritorLúcia Lemos

Talvez o coronavírus não te mate, mas...

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquela professora incrível que te ensinou a ler anos atrás.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar o porteiro mais bem-humorado do seu condomínio. E que você nem fazia ideia de que lutava contra diabetes e obesidade.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquela colega de trabalho que você não tinha tanto contato, porém, estava sempre ali ajudando seus colegas e fazendo um ótimo serviço.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquela enfermeira que você viu vez por outra na rua. Uma mulher guerreira que teve que empurrar mais macas do que as vezes que empurrou seus filhos no balanço da pracinha.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar a diretora da escola onde sua filha estuda e que, por melhor pessoa que fosse, não pôde resistir com os pulmões feridos por cigarro.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquela senhorinha gentil que sempre lhe dava bom dia e alimentava os gatos de rua pelo bairro.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquele motorista pontual e divertido, que sempre levava um radinho para tocar músicas de louvor ao Deus que você também acredita.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquele YouTuber Gamer que você seguia e fazia piada nas lives, dizendo que, por ser jovem, estava imune.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar a dona daquele labrador que sempre fazia festa quando você passava pelo portão. E este pobre cachorro morrerá dias depois por saudade e depressão.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar vários dos membros da igreja que você ia, que achavam que seriam curados ou protegidos se apenas continuassem rezando e fazendo ofertas.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar o filho recém-nascido da irmã de sua empregada. E talvez você ainda vá obrigá-la a trabalhar mais ou até que ela more no seu quartinho dos fundos.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar aquele vizinho rabugento, que fazia questão de fingir ser o juiz das peladas com os demais amigos e vizinhos todo sábado antes da quarentena.

Talvez o covid-19 não te mate

Mas vai matar o dono simpático da quitanda perto da sua casa. Aquele mesmo que lhe disse dias atrás que manteria o comércio semiaberto porque era forte e tinha histórico de atleta.

Talvez o covid-19 não te mate

Talvez ele não mate aqueles que você ama

Talvez ele até poupe seus conhecidos

Ou talvez não.

Quantos milhares terão que morrer até que você entenda que crise econômica passa, mas só quem está vivo pode tentar recomeçar?

Quantos milhares terão que morrer até que você entenda que o lucro não deveria estar acima da nossa saúde?

Quantos milhares terão que morrer até que você entenda a dor das famílias despedaçadas?

Quantos milhares terão que morrer até que você entenda que não é só uma gripezinha, exagero ou fake news?

Quanto tempo levará para que seu coração sinta um pouco de dor pelos números que só crescem?

Quando você será capaz de ver que, por trás de tantos números, há vidas humanas?

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Lúcia Lemos, 5 de junho de 2020.

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